plural

PLURAL: os textos de Atílio Alencar e Fabiano Dallmeyer

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Carta da província
Atílio Alencar
Produtor cultural

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Anos atrás, ao abrir um link aleatório, me deparei com a fala de uma jovem escritora gaúcha, porto-alegrense ou radicada na capital do estado, que tecia comentários não muito elogiosos às cidades do interior. Melhor dizendo, era um comentário sobre a opacidade de lugares como Santa Maria, sobre a ausência de identidade material daqui e de outras cidades interioranas, supostamente desprovidas do charme arquitetônico e da singularidade urbana que marcam a capital.

Minha primeira reação, lembro, foi francamente bairrista: tratei logo de resgatar mentalmente os atrativos visuais de Santa Maria, depois revisitei de memória um punhado de outras cidades gaúchas que conheço, relembrei passeios por ruas e paisagens marcantes, e, para coroar meu ressentimento, sorri vingativo por constatar que minha experiência literária com um livro da tal escritora havia sido descartável.

Depois, aos poucos, fui percebendo que estava apenas exercendo meu quinhão de provincianismo, reforçando as barreiras contra a petulância invasiva dos estrangeiros (como se não fôssemos, eu entre tantos, também estrangeiros ancorados na Boca do Monte).

A VIDA NO INTERIOR

Alguém já disse que "não há nada mais provinciano do que o desejo de abandonar a província", frase com a qual tendo a concordar. Diria, também, que, ao abandonarmos a província, a levamos conosco para onde quer que a gente vá. Por isso vejo um receio sintomático em parecer caipira, quando um vivente das grandes cidades sente a necessidade de declarar aversão pelas configurações interioranas. 

Mas aos poucos, pensando na tal opacidade a que se refere à jovem escritora, meu primeiro impulso de lhe escrever uma réplica foi sendo tristemente substituído pela aceitação de que os benefícios da vida no interior, que eu pretendia esfregar-lhe na cara como prova da imensa fortuna que é viver longe das capitais, estão desaparecendo.

PROCESSO DE DESENCANTO

Adoraria dizer que Santa Maria e outras províncias do pampa e da serra são o avesso perfeito de Porto Alegre, mas já não posso. Porque o projeto de cidade que hoje nos vendem é igual em todos os lugares, com sutis variações de opacidade, mas todas em processo de desencanto, monótonas em seu automatismo, pensadas para o comércio ostensivo e para os carros, e pouco para a pausa, a respiração, o andar pedestre.

Insossas, nossas cidades, ao centro e à margem, caminham para a diluição das suas feições próprias em uma superfície geral, plana e impermeável às diferenças que forjam a identidade de cada lugar. Sorte da escritora pretensiosa, que não vê que nesses tempos opacos só a tristeza é cosmopolita.

Esporte motorizado
Fabiano Dallmeyer
Fotógrafo

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Já ouvi uma vez, que até em corrida de porco eu vou, caso tenha ronco. Meus esportes são os que envolvem carros, motos ou caminhões. Não importa muito o tipo, desde os circuitos aos rallies. Essa paixão que tenho pelas corridas, adquiri do meu pai, que foi ao lado do meu tio Inno May, uma dupla vencedora de rallies no passado, tripulando Fuscas, Brasilías e Chevettes. Bons tempos.

O Brasil sempre foi um país de referência de grandes pilotos. Um dos mais conhecidos e admirados pelo mundo é o saudoso Ayrton Senna. Senna é o piloto de Fórmula 1 mais rápido das últimas quatro décadas, segundo um estudo realizado pela Amazon Web Services (AWS), que utilizou a tecnologia de machine learning para fornecer uma classificação objetiva, baseada em dados de todos os pilotos desde a temporada de 1983 até os dias atuais. Você sabia disso? É provável que não. O que é completamente normal. É muito mais fácil saber que o FC Dallas anuncia contratação do goleiro Phelipe Megiolaro, do Grêmio. Ou que Inter e Truner fazem as pazes e encaminham novo acordo.

AUTOMOBILISMO

Para a grande mídia, esporte é sinônimo de futebol. E era isso. Qualquer outro desporto, ainda que tenha importância internacional, e gere muitas divisas, sempre fica em segundo plano, ou acaba virando uma nota de rodapé. Como para toda a regra existe a exceção, quando acontece uma fatalidade, aí sim pode até virar capa de jornal. Esporte em tempo de Covid.

Recentemente, a Federação Gaúcha de Automobilismo (FGA) lançou uma nota à imprensa. Cito algumas partes.

"Estamos acompanhando indignados a situação, onde somente o futebol profissional foi liberado para competir, sendo um esporte coletivo e de contato enquanto o automobilismo é deixado de lado.

ESPORTE NÃO É SÓ FUTEBOL

Em termos de competições, o automobilismo é o esporte que mais movimenta recursos dentro do Estado depois do futebol profissional, são cerca de R$ 100 milhões que estão deixando de circular no Rio Grande do Sul."

"O esporte não é só o futebol. Como podemos aceitar que o futebol retorne suas atividades e o automobilismo, que é um esporte sem contato entre os competidores, não tem seu retorno autorizado? Os praticantes dessa modalidade estão com suas atividades paralisadas, desde dezembro do ano passado, em virtude do encerramento do calendário esportivo e, até hoje, não estão tendo seu principal sustento garantido em razão das competições não terem sido autorizadas."

Até quando os outros esportes serão ignorados?

Confira na íntegra a nota à imprensa, pelo site da FGA: www.fgars.org

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